Conservação do lobo
Um dos fatores que mais contribui para a existência de conflitos entre as comunidades rurais e a presença do lobo, são os prejuízos que estes causam nos rebanhos. Em Portugal, esta situação é particularmente evidente, em virtude da escassez das presas naturais do lobo, os cervídeos silvestres. Como resultado, este predador alimenta-se quase exclusivamente de animais domésticos. Esta situação conduz à intolerância face ao lobo e à sua perseguição pelas comunidades rurais, o que colocou esta espécie em perigo de extinção no nosso país.
Em virtude desta ameaça, foi elaborada uma lei específica para este predador, a Lei de Protecção do Lobo Ibérico (Lei 90/88 e Dec-Lei 139/90). Como uma das medidas para a conservação deste predador, a lei determina o pagamento de indemnizações aos criadores de gado pelos prejuízos atribuídos ao lobo. Este pagamento é efetuado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, em toda a área de distribuição do lobo, através das Áreas Protegidas responsáveis pela comprovação das situações de predação após reclamação dos criadores de gado.
No entanto, a referida medida não é suficiente, pois trata-se de uma medida passiva, que não irá contribuir para diminuir a causa dos conflitos. É necessário o desenvolvimento de medidas práticas que contribuam efetivamente para reduzir a predação nos animais domésticos e minimizar os prejuízos económicos resultantes. A aplicação de sistemas de produção e de proteção do gado que sejam compatíveis com a conservação dos predadores ameaçados de extinção é pois uma condição essencial para que a coexistência com o homem seja uma realidade.
Com o reconhecimento da importância da conservação da biodiversidade, torna-se necessário o desenvolvimento de uma produção agrícola e pecuária que tenha em consideração a conservação do meio ambiente. Enquanto a União Europeia subsidia a produção animal em moldes tradicionais e a recuperação das raças autóctones, também apoia o desenvolvimento de estudos e de medidas que permitam a recuperação de espécies ameaçadas, como o lobo.
Como método de proteção o cão de gado destaca-se pela sua utilização generalizada e capacidade de adaptação às diferentes situações de pastoreio e de maneio tradicional do gado. Contudo, a correta utilização destes cães tem vindo a diminuir, o que contribui para o aumento do número de prejuízos.
O desinteresse pelos cães de gado, na sua função original, conduziu também à diminuição do número de exemplares de cada raça, o que está a contribuir para o aumento do grau de consanguinidade e para a diminuição da variabilidade genética das raças, com consequências negativas na viabilidade individual e nas características reprodutoras, como a fertilidade e a fecundidade.
Nas últimas décadas, a utilização dos cães de gado tem sido recuperada, ou introduzida, em vários países por todo o mundo, por constituir uma forma prática e eficaz de diminuir os prejuízos económicos resultantes dos ataques causados pelos predadores, especialmente em regiões onde estes se encontram ameaçados, como é o caso do lobo na maior parte dos países Europeus.
Esta parece ser uma boa solução para reduzir os conflitos que podem resultar entre a produção pecuária e a presença do lobo, aumentando a tolerância para com este último grande predador da nossa fauna e permitindo a sua conservação para as gerações futuras.