Manual de criação

Criar e educar um cão de gado não é complicado, mas devemos ter em atenção alguns pormenores e controlar determinadas situações que podem ser determinantes para que o cão se torne eficiente. Devemos ter em conta o seu desenvolvimento físico e comportamental, as condições em que é criado e os cuidados particulares a ter com este tipo de cães. Estes conhecimentos podem ser úteis para maximizar a eficácia e adaptação do cão de gado aos diferentes sistemas de pastoreio e maneio do gado.

A seguir apresentam-se, sob a forma de perguntas, alguns assuntos considerados importantes para quem pretende integrar um cão de gado num rebanho/manada como forma de proteção dos ataques de predadores.

  1. Qual é o segredo para ter um cão de gado eficiente?
  2. Que cuidados ter na escolha de um cão de gado?
  3. Que raça escolher?
  4. Como educar um cão de gado?
  5. Quais são as características de um bom cão de gado?
  6. Quantos cães de gado são necessários?
  7. Como avaliar a eficácia do cão de gado?
  8. Como corrigir comportamentos inadequados?
  9. Que cuidados ter com o cão de gado?
  10. Quais as responsabilidades do dono do cão de gado?

 

1. Qual é o segredo para ter um cão de gado eficiente?

Para ter um cão de gado eficiente duas coisas são fundamentais: escolher um cão de uma raça adequada e criá-lo corretamente. Ao escolher um cão de uma raça adequada estamos a aumentar a probabilidade do cão vir a demonstrar os comportamentos adequados. São esses comportamentos particulares que lhe permitem criar laços sociais com os animais do rebanho e protegê-los eficazmente – o cão protege o rebanho porque o considera a sua família. Porém, para que os cães demonstrem esses comportamentos é necessário habituá-los desde muito cedo aos animais que deverão proteger quando forem adultos.

Criar um cão de gado requer tempo e dedicação, até que ele esteja pronto a proteger o gado. Tal como os outros animais, os cães não atuam de forma automática, o seu comportamento é variável pelo que alguns cães podem ser melhores que outros.

NINHADA

INTEGRACAO1

 

2. Que cuidados ter na escolha de um cão de gado?

Para aumentar a probabilidade de ter um bom cão é importante escolher bem os progenitores. Estes devem ser, idealmente, cães utilizados na proteção do gado para se poder avaliar a sua eficiência. Devem ser saudáveis, bem conformados e não ter defeitos hereditários, tais como displasia da anca ou má inserção dos incisivos (prognatismo). Ao selecionar o cachorro deve também ter a certeza de que ele é saudável e bem constituído. O cachorro não deve ser nem muito ativo nem muito tímido, mas parecer confiante e alerta.

Escolher um macho ou uma fêmea
Não parece existir diferença entre a eficiência de um cão e de uma cadela. No caso de necessitar de mais de um cão no rebanho deverá escolher um casal de cães não aparentados.

Onde obter um cão de gado
A melhor forma de adquirir um bom cão é contactar um criador de gado que possua bons cães de gado e que tenha experiência na sua criação. Ele poderá vender-lhe cachorros filhos dos seus cães. Se não conhecer nenhum criador ou se quiser saber mais sobre estes cães pode contactar o Grupo Lobo, os técnicos das Áreas Protegidas responsáveis pelo pagamento das indemnizações devidas pelos prejuízos causados pelo lobo, os Clubes das Raças de Cães ou as Associações de Criadores de Gado.

 

3. Que raça escolher?

A seleção continuada pelos pastores, ao longo de centenas de anos, dos cães que melhor protegiam os rebanhos deu origem a um tipo de cão com características comportamentais e morfológicas particulares. Regionalmente esta seleção resultou no surgimento de diferentes raças. Em Portugal existem 4 raças de Cães de Gado: o Cão de Castro Laboreiro, o Cão da Serra da Estrela, nas variedades de pelo comprido e de pelo curto, o Rafeiro do Alentejo e o Cão de Gado Transmontano.

Em termos gerais não existem diferenças significativas entre o sucesso das diferentes raças, apesar de haver diferenças comportamentais entre elas. No entanto, algumas raças podem ser mais adequadas a determinadas condições – a um tipo de gado e a certas características das pastagens e do clima. A eficácia também parece variar entre os cães de uma mesma raça e algumas linhagens podem ser melhores que outras. Assim, deve ter cuidado na seleção da raça e dos progenitores dos cachorros que pretende adquirir.

 

4. Como educar um cão de gado?

Integração no gado
Logo após o desmame (2 meses de idade) o cachorro deve ser colocado com o gado e permanecer sempre com ele, evitando todo o contacto desnecessário com pessoas (especialmente crianças) ou outros cães. O cão deve ser mantido juntamente com o gado, num curral de onde não possa fugir. No curral do gado deve ser preparado um pequeno compartimento para onde o cão se pode retirar sempre que o gado for mais agressivo. Este compartimento deve ser feito para que o cachorro possa entrar e sair livremente, mas o gado não. No interior deve ser colocada a gamela com a comida do cão. A água deve estar numa zona comum para promover o contacto entre o cachorro e o gado. Após um período de habituação ao gado (nunca inferior a 15 dias), o cachorro pode começar a acompanhar o gado durante o pastoreio. É este o segredo para que o cão acompanhe o gado nas suas deslocações e que esteja sempre presente se algum predador tentar atacar o rebanho. Em regiões onde a pressão dos predadores é grande, o cão só deverá começar a acompanhar o gado depois dos 6-8 meses de idade, quando já tem mais capacidade para se defender.

INTEGRACAO2

CAO CRIANCA

CACHORRO REFUGIO

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Desenvolvimento do cão
Durante o crescimento o cão passa por diferentes fases. Um cão jovem, 5-10 meses de idade, pode demonstrar um comportamento muito brincalhão e imaturo e poderá cometer alguns erros. Enquanto brinca o cão pode perseguir o gado, puxar a lã ou mordiscar as orelhas dos cordeiros ou cabritos. Este comportamento não é desejável e deve ser corrigido para que não se torne num problema sério. No entanto, alguma brincadeira mais ligeira pode ser tolerada pois trata-se de um comportamento social que pode reforçar a ligação ao gado. Não se pode esperar que um cão juvenil atue como um cão adulto, que é mais confiante e tem mais experiência. Um Cão de Gado só atinge a maturidade com ano e meio, dois anos de idade, e só nessa altura se pode saber com certeza se é ou não um guardião eficaz. No entanto, um bom cão geralmente demonstra mais cedo o seu potencial.

CAO CABRITO

CAO PERSEGUIR

CAO MORDER

Contacto humano
O nível de contacto com pessoas depende do comportamento do cão. Para cachorros tímidos deve aumentar-se o contacto com as pessoas. No entanto, devemos ter presente que contacto humano em excesso irá diminuir a ligação do cão ao gado, fazendo com que abandone o gado em busca da companhia das pessoas. Por outro lado, muito pouco contacto humano pode fazer com que o cão se torne tímido ou com medo das pessoas. Estes cães são mais difíceis de manusear, nomeadamente durante um exame físico, e mais difíceis de controlar no rebanho. Podem também tornar-se mais agressivos com pessoas estranhas.

CAOPASTOR

Treino de obediência
Qualquer treino de obediência excessivo ou desnecessário pode comprometer a eficácia do cão uma vez que irá aumentar a ligação com as pessoas em detrimento da ligação com o gado. No entanto, é importante que o cão perceba a ordem “Não” e que pare o que estava a fazer quando a ordem é dada. Deve vir ao dono quando é chamado pelo nome, para que seja fácil de agarrar sempre que for necessário. Também é útil que esteja habituado a andar à trela, nomeadamente quando é necessário transportá-lo ao veterinário ou ficar acorrentado durante alguns tratamentos.

Cuidados a ter em pastagens vedadas
Os cães que são mantidos com rebanhos em pastagens vedadas devem ser visitados diariamente para verificar se o cão se está a portar corretamente e se permanece com o gado. Nestas visitas deve também verificar-se se o cão se está a desenvolver bem ou se não está doente. No caso de ser necessário alimentar o cão na pastagem pode utilizar-se um comedouro automático para colocar a ração. Este deve ser mantido longe do alcance do gado, se necessário construir uma barreira à sua volta, para evitar que o gado coma a ração. Também se deve colocar algum tipo de abrigo para os cães na pastagem. Isto pode ser importante porque alguns cães consideram este abrigo e a área envolvente como o seu território.

CAO VEDACAO

 

5. Quais são as características de um bom cão de gado?

Interações com o gado
O cão de gado exibe comportamentos sociais para com o gado (comportamentos de submissão e de investigação, lambendo ou cheirando a cabeça ou região anal) e não demonstra comportamentos predatórios. No entanto, alguns cães adultos podem proteger a sua comida ou reagir a comportamentos de agressividade do gado ladrando-lhe ou, menos frequentemente, mordendo-o levemente. Diferentes raças de gado comportam-se de maneira diferente para com os cães e, por isso, é importante que também o gado esteja habituado à presença do cão para que não seja agressivo ou tenha medo do cão, fugindo dele e dificultando o seu trabalho. A introdução de novos animais no rebanho pode provocar uma reação de agressividade do cão para com os animais desconhecidos. No entanto, simples repreensões devem ser suficientes para parar o comportamento do cão até que este se habitue aos novos animais.

CAO SUBMISSO

CAO INTERACCAO

Proteção do gado
O cão de gado investiga qualquer situação estranha ou intrusos que se aproximem, ladrando para alertar o pastor e confronta e persegue os intrusos para longe do rebanho. A mera presença de cães de gado num rebanho pode ser suficiente para manter os predadores afastados, pelo que os cães podem ser eficientes mesmo sem confrontarem os predadores.

ALERTA

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Primeiros encontros com predadores
Um cão pouco experiente pode reagir com insegurança ou mesmo medo no seu primeiro encontro com um predador, mas nos encontros seguintes, geralmente, irá perseguir os predadores para longe do rebanho. A experiência é necessária para que qualquer cão seja bem sucedido. Alguns cães podem ser menos eficazes a proteger o gado em caso de ataques provocados por outros cães.

 

6. Quantos cães de gado são necessários?

O número de cães necessários para proteger eficazmente um rebanho depende de vários fatores: tipo e número de animais no rebanho; tipo e densidade dos predadores; intensidade da predação; localização e características das pastagens; e sistema de produção utilizado. Pastagens mais planas e abertas requerem menos cães que áreas mais acidentadas ou com vegetação mais densa. Rebanhos maiores ou que se dispersem mais também necessitam de mais cães. Para um rebanho de dimensão média (cerca de 150-200 animais) é conveniente ter 2 ou mais cães, pois em grupo tornam-se mais confiantes e geralmente têm uma atuação complementar, sendo por isso mais eficazes. Deve começar-se com um cão e introduzir outro apenas quando o primeiro já estiver bem estabelecido, podendo assim servir de modelo para o cão mais novo. Criar vários cachorros ao mesmo tempo pode promover comportamentos de grupo (brincar, perseguir) que podem causar ferimentos no gado. Ter muitos cães adultos pode também ser um problema uma vez que pode levar alguns cães a vadiar, afastando-se do rebanho, ou encorajar comportamentos de grupo não desejáveis, tais como maior agressividade para com pessoas que se aproximem do rebanho.

QUANTOSCAES

 

7. Como avaliar a eficácia do cão de gado?

A eficácia dos cães de gado é tradicionalmente avaliada através da comparação entre o número de prejuízos antes e depois da sua integração no rebanho. No entanto, este método nem sempre é suficiente para traduzir a real eficiência dos cães, devido aos inúmeros fatores que podem influenciar a predação (e.x.: densidade de predadores, disponibilidade de presas alternativas, práticas de maneio do gado). Assim, para além da análise dos prejuízos é importante dispôr de outros métodos que permitam avaliar o desempenho do cão e que forneçam informação adicional, menos dependente das variáveis ambientais. Um destes métodos é a avaliação comportamental dos cães de gado segundo o modelo proposto por Coppinger & Coppinger (1980) que define três componentes para este tipo de cães: Atenção, Confiança e Proteção.

Também a satisfação do proprietário e a sua avaliação do desempenho dos cães é de grande importância para determinar o real sucesso da medida proposta.

Um dos aspetos a ter em consideração na avaliação dos cães de gado é que estes cães, apesar de poderem alcançar a dimensão de um adulto e atingir a maturidade sexual em menos de 1 ano de idade, apenas atingirem a maturidade psicológica ao 1,5-2 anos de idade. Antes dessa altura não se deve esperar que um cão comece a defender eficazmente o rebanho, uma vez que o seu comportamento ainda é essencialmente juvenil. Assim a avaliação apenas deverá ser efetuada após os cães terem atingido essa idade.

Para mais informações consultar o relatório Procedures for LGD Selection, Integration, Monitoring and Evaluation (Brevemente disponível).

 

8. Como corrigir comportamentos inadequados?

É difícil generalizar como cada cão irá reagir a uma nova experiência. Cada situação deve ser avaliada pelo dono e resolvida de forma adequada. No entanto, deve agir-se imediatamente para evitar que os comportamentos inadequados sejam reforçados e se tornem mais difíceis de corrigir. Em muitos casos é suficiente gritar o nome do cão ou a palavra “Não” ou atirar alguma coisa na direção do cão (tendo cuidado para não o atingir) para o distrair do que ele estava a fazer e parar o comportamento. Noutros casos pode implicar pequenas adaptações à forma como o cão está a ser criado. Deve-se ter em atenção que mesmo cães que se portaram bem anteriormente podem por vezes cometer erros em situações semelhantes.

Brincadeira excessiva
Quando um cachorro persegue excessivamente ou é agressivo com o gado é importante agir imediatamente para corrigir o comportamento. Agarrar e abanar o cachorro pelo cachaço gritando “Não” pode ser uma correção eficaz. Para controlar a brincadeira excessiva pode colocar o cachorro com os animais adultos do rebanho que são menos tolerantes às brincadeiras do cão. Outra alternativa é separar o cão temporariamente do rebanho num compartimento junto do gado. Para confirmar que o comportamento parou deve colocar o cão com o gado, mas sob supervisão.

Primeira época de parição do gado
A curiosidade e o comportamento infantil típicos dos cachorros ou cães jovens podem ser prejudiciais para os cordeiros ou cabritos recém-nascidos, pelo que é preciso ter uma atenção especial nesta altura. Se surgirem problemas o cão deve ser separado durante a época de parição e mantido com animais que não estão a parir.

Perseguição a espécies de caça
Alguns cães podem perseguir espécies de caça (coelhos, perdizes, javalis). Este comportamento deve ser desencorajado se a perseguição continuar durante uma grande distância uma vez que é ilegal e afasta o cão do rebanho que deve proteger. O cão deve ser corrigido e chamado ou trazido de volta para o rebanho.

Agressão a gado e pessoas estranhos
Alguns cães podem perseguir ou ser mais agressivos para gado estranho ou pessoas que se aproximam do rebanho. Este comportamento deve ser corrigido imediatamente, chamando o cão ou interrompendo o seu comportamento e se necessário repreender o cão. Em situações que podem conduzir a este comportamento, como atravessar uma localidade, os cães podem ser mantidos perto do pastor, presos numa trela ou mesmo açaimados.

Deixar o rebanho e vadiar
Se a socialização com o gado foi bem feita o cão irá preferir ficar perto do rebanho. Na pastagem o cão pode explorar a área envolvente, mas deve regressar para o rebanho passado pouco tempo. Se não regressar deve ser chamado ou trazido de volta e encorajado a permanecer com o rebanho. Também pode ser “perseguido” de volta para o rebanho sempre que se afasta muito. Uma ordem apropriada (“Fica” ou “Para o Gado”) pode ser dada sempre que o cão deve ficar na pastagem ou quando está a ser mandado para o rebanho. Este procedimento deve ser repetido quantas vezes forem necessárias. Se tal não funcionar o cão pode ser acorrentado numa área da pastagem perto do rebanho (com água e comida) durante alguns períodos, até se habituar a permanecer com o rebanho. Em alguns casos esterilizar o cão pode ser uma solução porque pode reduzir o comportamento de vadiagem nos machos e nas fêmeas. A esterilização não altera significativamente a eficácia dos cães.

 

9. Que cuidados ter com o cão de gado?

Comprar e criar um cão de gado é um investimento significativo de tempo e de dinheiro pelo que é importante cuidar do seu bem-estar. Os cães de gado estão sujeitos a um grande número de perigos que podem causar a sua morte prematura, principalmente nos primeiros anos de vida. As principais causas de morte, como as doenças e os acidentes, podem ser facilmente evitadas.

Saúde
Para reduzir o risco de doenças o dono deve manter atualizados os programas de vacinação e de desparasitação do cão e fornecer-lhe todos os cuidados veterinários necessários, recorrendo para isso a um médico veterinário com experiência. Deve examinar o cão frequentemente à procura de cortes ou abcessos e verificar se não existem objetos estranhos ou infeções na boca, nariz ou ouvidos. Deve também estar alerta a qualquer alteração do comportamento do cão, dos seus hábitos alimentares ou qualquer dificuldade para se movimentar, investigando imediatamente o que se passa. Não deve deixar o cão comer os restos de animais mortos ou placentas pois podem transmitir-lhe doenças.

VACINACAO

Alimentação
Os cães de gado gastam uma grande quantidade de energia e por isso é importante que tenham à sua disposição alimento adequado e água limpa para poderem trabalhar corretamente. A alimentação deve ser equilibrada para que o cão se desenvolva corretamente. As necessidades nutritivas de um cão são muito diferentes das nossas e variam em função da idade, do tamanho do cão, do estado de saúde, do estado fisiológico ou do grau de atividade. É importante que um cachorro tenha uma alimentação equilibrada e ajustada ao seu crescimento, pois ele vai crescer tanto no primeiro ano de vida como os humanos em 14 anos. Cadelas a amamentar ou cães que fazem muito exercício devem ter uma alimentação rica em proteínas e energia. Qualquer que seja o tipo de alimento é fundamental que o cão tenha sempre disponível água limpa e fresca.

RACAO

AGUA

Vantagens da ração
É muito difícil conseguir um equilíbrio correto entre os constituintes básicos da alimentação. Uma boa ração comercial contém todas as qualidades nutricionais que o cão necessita, sendo mais prática e higiénica, além de facilitar o controlo da quantidade certa de alimento. Como a ração tem pouca humidade o cão precisa de mais água que o normal.

Segurança
Deve manter o cão afastado das estradas ou controlá-lo quando tem de as atravessar e estar alerta à presença de venenos ou laços. Deve alertar os seus vizinhos e os caçadores para a presença do cão, o qual deve estar devidamente identificado com uma coleira.    

Para mais informações consultar o folheto Cuidados Básicos de Saúde e Reprodução do Cão de Gado.

 

10. Quais as responsabilidades do dono do cão de gado?

Segundo a lei os donos são responsáveis pela identificação, pelo registo e pelo licenciamento dos seus cães, bem como por todos os danos que estes causem. Assim é importante estar informado e legalizar os seus cães para evitar futuros problemas.

Identificação
Todos os cães devem estar obrigatoriamente identificados com uma coleira onde devem estar colocados o nome, a morada e o número de telefone do dono (Decreto-Lei nº. 314/2003). No entanto, nos cães de gado estas coleiras podem perder-se facilmente e por isso é aconselhável que os cães também estejam identificados eletronicamente. Esta identificação é já obrigatória por lei para alguns tipos de cães, como os cães de caça ou os cães perigosos ou potencialmente perigosos, desde o dia 1 de Julho de 2004, e será obrigatória para todos os cães, incluindo os cães de gado, nascidos após o dia 1 de julho de 2008 (Decreto-Lei n.º 313/2003).

A identificação eletrónica é feita através da introdução, pelo médico veterinário, de um microchip sob a pele do lado esquerdo do pescoço do cão, através de uma simples injeção com uma agulha específica. O microchip é um sofisticado circuito eletrónico, do tamanho de um grão de arroz, onde está gravado um número de código único para cada cão, que permanecerá com ele para toda a vida e que se deteta com um leitor específico que se aproxima da pele. Deve ser colocado entre os 3 e os 6 meses de idade (com as primeiras vacinas), sendo facilmente aceite pelo organismo. É um método seguro e útil que permite a identificação permanente do cão e a confirmação do proprietário em caso de perda ou roubo, ao contrário do que acontece quando o animal está identificado apenas com a coleira, que, como foi dito, pode ser facilmente perdida ou retirada. Após a colocação do microchip os dados do cão e do proprietário são enviados pelo médico veterinário para uma base de dados nacional, o Sistema de Identificação de Caninos e Felinos (SICAFE), que reúne a identificação de todos os animais. O médico veterinário deverá preencher uma ficha de registo, em triplicado, e colar etiquetas com o número de identificação do animal em cada uma das fichas e ainda no Boletim Sanitário do cão. O original e o duplicado da ficha de registo são entregues ao dono do cão, ficando o triplicado para o médico veterinário. O duplicado deverá depois ser entregue na Junta de Freguesia da área de residência do dono quando proceder ao registo do cão.

Vacinação contra a raiva
A raiva é uma zoonose, ou seja, uma doença que pode ser transmitida ao ser humano através do contacto com canídeos, como os cães, sendo causada por um vírus muito contagioso e mortal. Devido à sua elevada perigosidade para o ser humano, a vacina anti-rábica é a única vacinação obrigatória por lei. Os cães de gado devem ser vacinados contra a raiva a partir dos 3 meses de idade durante as campanhas anuais de vacinação anti-rábica, anunciadas em edital público divulgado pelas Juntas de Freguesia (Portaria n.º 81/2002).

Registo e licenciamento
O registo e licenciamento são obrigatórios por lei (Portaria n.º 421/2004) para todos os cães entre os 3 e os 6 meses de idade e deverão ser feitos na Junta de Freguesia da área de residência do dono do cão.

A licença deve ser efetuada aquando do registo do cão e renovada anualmente. Para licenciar o cão é necessário apresentar o Boletim de Vacinas onde deve constar o comprovativo de vacinação contra a raiva, única vacina obrigatória e (para os cães nascidos a partir de 1 de julho de 2008) entregar o duplicado da ficha de registo referente à identificação eletrónica do cão.

Os cães de gado deverão ser registados na categoria B Cães com fins económicos, sendo necessário assinar uma declaração dos bens que o cão guarda, como sejam: rebanho de cabras ou ovelhas. O comprovativo do licenciamento deve ser feito no Boletim de Vacinas mediante uma vinheta ou carimbo da Junta de Freguesia na folha existente para o efeito.

O dono fica ainda obrigado a comunicar à Junta de Freguesia a morte ou desaparecimento do cão, para se cancelar o registo, e ainda se ocorrer transferência de proprietário.

Responsabilidade civil
De acordo com a lei os proprietários são responsáveis por todos os prejuízos causados pelos seus cães. Estes prejuízos podem por vezes ser elevados (e.x.: danos em viaturas ou ferimentos noutros cães) pelo que é aconselhável efetuar um Seguro de Responsabilidade Civil. Algumas seguradoras têm este tipo de seguros para animais, que requerem apenas o pagamento de uma pequena quantia anual.